Henrique Neves: Weaving History, Identity, and Material into Art
English:
Henrique Neves is an artist who defies boundaries of medium, identity, and narrative. Born and raised in Lisbon, his formative years were deeply influenced by the aftermath of Portugal’s revolution. Growing up in a conservative society, Neves wrestled with family and social pressures that left little room for authentic expression as a queer man. Leaving Portugal was an act of reclamation. “The idea of queerness, of exile, informs everything I create,” Neves shared. “It’s about the movement away and what’s left behind, but also what is carried forward.”
Henrique Neves’s influences are as varied as his materials. He draws inspiration from musicians who intertwine diverse sonic traditions, as well as artists whose practices transcend disciplines and defy categorisation. “I find so much value in lesser-known voices,” he said. “There’s a richness in the intersections, where ideas from different contexts collide and evolve.” His creative ethos is also deeply rooted in familial history, shaped by the skilled craftsmanship of the women in his family—his great-grandmother, grandmother, and mother—all of whom worked as seamstresses and decorators. Neves cherishes the role of community in the artistic process, finding solace and energy in the exchange of ideas, even within the often isolating world of art-making.
It was a decade in the Netherlands, immersed in the experimental worlds of performance and video art, that carved the unique foundation of his practice. Neves is not tethered by conventional labels; he embraces the ambiguity of existence, inviting audiences to look beyond the surface of his work and their own perceptions. His transition from performance and live arts to painting and object-making represents an evolution. The physicality of his earlier work remains, now embedded in the tactile manipulation of his materials. Layers of fabric, paint, and texture mimic the layers of identity, memory, and history.
Our interview revealed an artist deeply connected to his materials, his identity, and the social and political conditions that shape his work. He is, as he describes, “in dialogue with the materials”—a process as much about relinquishing control as it is about asserting intention. His method involves layering textures, sourcing secondhand and discarded textiles imbued with what he calls “ghosts of their own histories.” Neves’s use of found and discarded materials is more than an aesthetic choice; it is an ethical and emotional one. By repurposing textiles, he gives them a second life, weaving their histories into his own narratives. “These materials carry ghosts,” he noted. “They’ve lived other lives, and those stories seep into the work.”
This approach extends to his exploration of three-dimensionality. Neves is currently experimenting with ways to blur the lines between painting, sculpture, and installation, pushing his work into a space where it cannot be easily categorized. This ambiguity, he believes, mirrors the complexities of identity and the human experience.
While Neves’s work often carries an abstract quality, it is far from detached. He emphasizes that abstraction is not an escape from reality but a way to confront it. “Abstraction is informed by real, active conditions,” he explained. “It’s about creating something that resonates with a truth, even if it’s not immediately visible.” This connection to memory and history underscores Neves’s belief that art is not static. It evolves with time, with the viewer, and with the world around it. “What I would like,” he shared, “is for people to engage with it in a way that makes them think, feel, or look a bit more carefully than usual. Maybe, if you look carefully, you’ll find a meeting point.”
Henrique Neves’s art is a testament to the power of nuance and depth. It challenges viewers to move beyond surface-level interpretations and engage with the complexities of identity, history, and materiality. As he continues to push boundaries and explore new dimensions, Neves reminds us that art, like life, is most powerful when it encourages thoughtful engagement and fosters genuine connection.
Português:
Henrique Neves é um artista que desafia os limites do meio, da identidade e da narrativa. Nascido e criado em Lisboa, os seus anos formativos foram profundamente marcados pelas consequências da revolução portuguesa. Crescendo numa sociedade conservadora, Neves enfrentou as pressões familiares e sociais que deixavam pouco espaço para uma expressão autêntica enquanto homem queer. Sair de Portugal foi um ato de reivindicação pessoal. “A ideia de queer, de exílio, permeia tudo o que eu crio”, partilhou Neves. “É sobre o movimento para fora e o que se deixa para trás, mas também sobre o que se leva adiante.”
As influências de Henrique Neves são tão diversas quanto os seus materiais. Ele inspira-se em músicos que entrelaçam tradições sonoras distintas e em artistas cujas práticas transcendem disciplinas e desafiam categorizações. “Encontro um valor imenso em vozes menos conhecidas”, afirmou. “Há uma riqueza nos cruzamentos, onde ideias de diferentes contextos colidem e evoluem.” A sua visão criativa também está profundamente enraizada na história familiar, moldada pelo ofício minucioso das mulheres da sua família—bisavó, avó e mãe—todas costureiras e decoradoras. Neves valoriza o papel da comunidade no processo artístico, encontrando conforto e energia na troca de ideias, mesmo dentro do mundo frequentemente isolador da criação artística.
Foi uma década nos Países Baixos, imerso nos mundos experimentais da performance e da videoarte, que construiu a base singular da sua prática. Neves não se prende a rótulos convencionais; abraça a ambiguidade da existência, convidando os públicos a olharem para além da superfície do seu trabalho e das suas próprias perceções. A sua transição das artes performativas e ao vivo para a pintura e criação de objetos representa uma evolução. A fisicalidade do seu trabalho inicial permanece, agora incorporada na manipulação tátil dos seus materiais. Camadas de tecido, tinta e textura imitam as camadas de identidade, memória e história.
A nossa entrevista revelou um artista profundamente conectado aos seus materiais, à sua identidade e às condições sociais e políticas que moldam o seu trabalho. Ele está, como descreve, “em diálogo com os materiais”—um processo que envolve tanto renunciar ao controlo como afirmar a intenção. O seu método inclui sobrepor texturas e utilizar têxteis de segunda mão e descartados, impregnados com aquilo que ele chama de “fantasmas das suas próprias histórias”. O uso de materiais encontrados e reciclados vai além de uma escolha estética; é uma decisão ética e emocional. Ao reaproveitar têxteis, Neves dá-lhes uma nova vida, entrelaçando as suas histórias nas suas próprias narrativas. “Estes materiais carregam fantasmas”, observou. “Viveram outras vidas, e essas histórias infiltram-se no trabalho.”
Esta abordagem estende-se à sua exploração da tridimensionalidade. Neves está atualmente a experimentar formas de esbater as linhas entre pintura, escultura e instalação, empurrando o seu trabalho para um espaço onde não pode ser facilmente categorizado. Esta ambiguidade, acredita, reflete as complexidades da identidade e da experiência humana.
Embora o trabalho de Neves carregue frequentemente uma qualidade abstrata, está longe de ser desconectado. Ele enfatiza que a abstração não é uma fuga da realidade, mas uma forma de a enfrentar. “A abstração é informada por condições reais e ativas”, explicou. “Trata-se de criar algo que ressoe com uma verdade, mesmo que não seja imediatamente visível.” Esta ligação à memória e à história sublinha a sua crença de que a arte não é estática. Evolui com o tempo, com o espectador e com o mundo ao seu redor. “O que eu gostaria”, partilhou, “é que as pessoas se envolvessem com a obra de uma forma que as levasse a pensar, sentir ou olhar de maneira um pouco mais atenta do que o habitual. Talvez, se olharem com cuidado, encontrem um ponto de encontro.”
A arte de Henrique Neves é um testemunho do poder da nuance e da profundidade. Desafia os espectadores a irem além das interpretações superficiais e a envolverem-se com as complexidades da identidade, da história e da materialidade. À medida que continua a ultrapassar limites e explorar novas dimensões, Neves lembra-nos que a arte, tal como a vida, é mais poderosa quando encoraja uma reflexão atenta e fomenta uma ligação genuína.
