João Mouro’s Grounded Practice
Cortição
english
João Mouro is a Lisbon-based artist originally from the Algarve, whose work is born from the contradictions of his homeland: dry red earth meeting saltwater horizons, ancient traditions rubbing up against gaudy vacation developments—Growing up, João preferred the company of locals and fishermen on the rugged side of town to the master-planned perfection of empty vacation homes. And while some of his architectural works nod to the clean lines of those “nicer” houses, the materials he chooses—raw and aged—stand in deliberate opposition to their artificial gloss. João absorbs these tensions and reshapes them, finding harmony between opposites—function and abstraction, nature and human intervention, a show of rustic simplicity in complex forms. The Algarve’s natural palette—cork, sun-bleached timbers, ochre-hued soil—filters through his work.
João’s connection to the environment has profoundly shaped his artistic approach. His upbringing instilled a deep appreciation for balance—between tradition and innovation, functionality and aesthetics. João’s creative practice is rooted in the elemental. Wood, his preferred medium, holds memory of growth, decay, and resilience. His relationship with this material feels almost spiritual. As a teenager, his practice in woodworking was self-lead; in the university when a carpentry teacher failed him, he turned limitations into opportunities. Failure, in his hands, becomes a collaborator. “I can’t be afraid of it,” he says, “because then I’d make nothing.” It’s this fearless tinkering that characterizes his behavior—driving through the landscape, Mouro often finds himself stuck by ideas, recording them hastily on his phone before they slip away. “It’s annoying because you’re driving and can’t stop,” he laughs. “But these moments bring the most concrete ideas. I imagine a rocking chair with a painting suspended above it—functional but also art, something you can live with and be inspired by.”
Cortição
The tension between functionality and creativity defines Mouro’s work. He recounts friends urging him to let go of practicality in his art. “They say, ‘The boat doesn’t need to float—it’s art!’ But for me, I want it to float. That challenge of merging the two excites me.” João finds liberation in designing within constraints, using function as a playground for deeper ideas.
Beyond his individual practice, Mouro has created a shared studio space, a sanctuary for collaboration and mutual support, where artists from various disciplines converge. For his own art, visitors are encouraged to touch, question, and engage—a deliberate subversion of art-world pretensions. He recalls the surprise of his earlier studio, located in a party-heavy district, where late-night revelers would stumble into his space and unexpectedly interact with his work. These moments, unscripted and messy, left an indelible mark. For João, art isn’t sacred—it’s lived.
There’s an unrelenting honesty to João, an unwillingness to over-intellectualize or package himself neatly for public consumption. He wrestles with his own critical voice, often downplaying his successes. But his humility isn’t self-doubt—it’s part of his ethos. For João, art is less about grand statements and more about a quiet, ongoing dialogue: with his materials, his environment, and the people who encounter his work.
At a time when the art world often feels like a spectacle of excess, João Mouro’s approach feels like a breath of fresh air. Grounded yet restless, humble but fiercely intentional, João is carving out not just objects, but spaces for reflection, connection, and transformation.
Bilongo
Igitavaori
Inside João’s studio: Fábrica das Águas
português
João Mouro é um artista algarvio que vive e trabalha em Lisboa. O seu trabalho nasce das contradições presentes na paisagem de sua terra natal: o barro vermelho e seco que tanto dá chão a alfarrobeiras e figueiras como a casas de férias vazias, ou as aldeias piscatórias se debruçam no mar junto com a arquitectura moderna dos resorts e hotéis. Embora algumas das suas esculturas arquitectónicas sigam as linhas modernas destas casas “mais bonitas”, os materiais que escolhe – em bruto e envelhecidos – opõem-se deliberadamente ao seu brilho artificial. João absorve estas tensões e remodela-as, encontrando harmonia entre opostos – função e abstração, natureza e intervenção humana, uma demonstração de simplicidade rústica em formas complexas. A paleta natural do Algarve – cortiça, madeira branqueada pelo sol, terra em tons ocres – filtra-se na sua obra.
A ligação de João ao meio ambiente moldou profundamente a sua abordagem artística. A sua educação incutiu um profundo apreço pelo equilíbrio – entre tradição e inovação, funcionalidade e estética. A prática criativa de João está enraizada no elementar. A madeira, o seu meio preferido, guarda memórias de crescimento, decadência e resiliência. A sua relação com este material parece quase espiritual. Enquanto jovem, a sua prática de carpintaria era autónoma; Na universidade, quando um professor de carpintaria o reprovou, transformou as limitações em oportunidades. O desconhecimento, nas suas mãos, torna-se colaborador. “Não posso ter medo”, diz, “senão, não faço nada”. É este trabalho destemido que caracteriza o seu comportamento: ao conduzir pela paisagem, Mouro muitas vezes vê-se atafulhado em ideias, registando-as apressadamente no seu telemóvel ou num caderno antes que desapareçam. “É irritante porque estás a conduzir e não dá jeito parar”, ri-se. “Mas são estes momentos que trazem as ideias mais concretas. Imagino uma cadeira de baloiço com uma pintura suspensa por cima como se fosse um toldo – funcional, mas também estética, algo com que se pode usar, apreciar, viver e inspirar.”
Ergueu no Patamar Quatro Paredas Mágicas
A tensão entre funcionalidade e criatividade define o trabalho de Mouro. Diz que os seus amigos por vezes o incentivam a abandonar a funcionalidade na sua arte. “Dizem: ‘O barco não precisa de flutuar – estás a fazer arte e não uma embarcação de recreio! Mas, para mim, quero que flutue. Este desafio de fundir os dois entusiasma-me.” João encontra libertação ao trabalhar restringido entre estética e funcionalidade na procura de ideias mais profundas.
Para além da prática individual, Mouro criou um estúdio partilhado, um espaço de colaboração e apoio mútuo, onde convergem artistas de diversas disciplinas. Ao visitar o atelier de João Mouro, o público é encorajado a tocar, questionar e envolver-se – contrariando o velho hábito elitista do mundo da arte de afastar fisicamente o público da obra. Recorda a surpresa do seu atelier anterior, localizado no Bairro Alto, onde os notívagos tropeçavam no seu espaço e interagiam inesperadamente com o seu trabalho. Estes momentos, improvisados e confusos, deixaram uma marca indelével. Para João, a arte não é sagrada – é vivida.
Há uma honestidade implacável no João, uma relutância em intelectualizar-se excessivamente ou em empacotar-se ordenadamente para consumo público. Ele debate-se com a sua própria voz crítica, muitas vezes minimizando os seus sucessos. Mas a sua humildade faz, sem dúvida, parte do seu espírito. Para João, a arte tem menos a ver com grandes declarações e mais com um diálogo calmo e contínuo: com os seus materiais, o seu ambiente e as pessoas que encontram o seu trabalho.
Numa altura em que o mundo da arte parece, muitas vezes, uma demonstração de excessos, a abordagem de João Mauro parece uma lufada de ar fresco. Prático, mas inquieto, humilde, mas ferozmente intencional, João está a esculpir não apenas objetos, mas espaços de reflexão, conexão e transformação.
Dikanza Lava Roupa